terça-feira, 17 de outubro de 2023

Ancestral Shadows - Eldritch Illuminations


Das frenéticas labaredas da bruxaria, emergem as Sombras Ancestrais, como um coro lúgubre do Black Metal Americano. Após a ressonância de três majestosos álbuns completos, os Fantasmas Tiranicos de ''Ancestral Shadows'' regressam das profundezas criptais...

Após uma década de murmúrios soturnos que se arrastaram nas sombras do Submundo do Black Metal Americano, eis que irrompe um convite sombrio, celebrado com a Dark Adversary Productions. Um tributo sólido à cena clássica do Black Metal Europeu dos anos 90 é forjado pelos nativos de Nova Inglaterra, que resgatam sua singularidade das páginas empapadas de sangue que narram o horror gótico e o folclore sombrio, para proferir sermões sinistros do U.S. Black Metal, envolvendo a alma com uma escuridão profunda.

Como se ao longo das eras, essas sombras ancestrais tivessem guardado segredos insondáveis, aguardando o momento oportuno para ressurgir e entoar hinos de trevas. Do âmago das labaredas da bruxaria, emergem como fantasmas tirânicos, homenageando os mestres do passado, ao mesmo tempo que forjam sua própria lenda no presente.

Neste pacto sombrio, ressoa uma ancestralidade que ecoa os mistérios sombrios da Europa do passado. Uma celebração do Black Metal que traz consigo as marcas da terra nativa, onde o gótico e o folclore se entrelaçam, gerando narrativas que enredam a alma nas teias do desconhecido.
 
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Abrindo com esplêndidas vibrações de dungeon synth para evocar o espírito de Tolkien na música subsequente, em ''I. Introduction - Tragedies Befell'' a atmosfera se desvela de imediato de maneira incrivelmente cativante, construída com riqueza e beleza. Camadas de ambientes densos entrelaçam-se e compõem um cenário magnífico, repleto de esplendor etéreo. A grandiosidade estonteante e reluzente das melodias sintetizadas transcende, proporcionando o som exato desejado.
É como se nos encontrássemos imersos nas profundezas de um reino mágico, onde a luz e a escuridão dançam em harmonia e segredos ancestrais são sussurrados pelas brisas das eras perdidas. Nesse encontro transcendental, as teclas encantadas revelam os vestígios de um conto épico, como se as páginas do passado ganhassem vida e pudessem ser lidas nas notas do presente.
Assim, somos levados por uma jornada através das névoas do tempo, onde a música se torna uma passagem para dimensões desconhecidas. É uma experiência que nos envolve em sua aura mágica, lembrando-nos dos feitos grandiosos e dos encantos misteriosos que espreitam nas sombras. É um prelúdio encantado, revelando a promessa de uma narrativa musical que nos convida a explorar os reinos da imaginação com grande expectativa. 

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Nas sombras gélidas, sob o luar que incendeia o círculo, a segunda faixa, ''II. Eldritch Illuminations (Of Immolated Witches)'', surge como um chamado ecoado pelo uivo dos lobos. Chamas negras se acendem, aquecendo o corpo sob a austera capa da escuridão. Feitiços entrelaçados com fervor, palavras puras entoadas com a voz. Neste momento, quando os astros iluminam o céu noturno, o narrador, mergulhado na profundeza dos rituais, comunica-se com espíritos errantes, reunindo-os e agitando-os em busca de respostas.

O pedido é claro, e ecoa pelas páginas sombrias deste conto musical. "Dai-me as Chaves... As Chaves para as Glórias da Morte". No meio desse culto, as revelações da mortalidade ganham vida. A frase "Mors mihi lucrum" torna-se um mantra, ecoando através das eras.

"Eu domino os Grandiosos Poderes da Terra, as forças elementares mantidas sob meu controle pela língua. Para as terras moribundas, para os céus agonizantes, eu desvendo o misticismo cósmico ligado à Lua, como se fiado por fios de uma teia sideral. Em um estado de torpor astral, eu me elevo pela noite, percorrendo as veias do mundo como veneno, desatado pelas Leis da Luz e da Vida."

O narrador se autodenomina um tirano espectral, uma alma em chamas, envolta em olhos que tudo veem, um ser eterno. A própria essência da humanidade, seu último suspiro, é absorvida por ele, o portador da espada flamejante. Sua presença traz sofrimento, enquanto proclama: "Mors tua, vita mea" - "Tua morte é meu ganho".

Em meio a essa visão sombria e etérea, o narrador não pode acordar, carregando consigo a visão da escuridão. Sobre as asas negras, ele carrega o fardo das estrelas, atravessando oceanos de sangue opalino, mergulhando nos abismos da existência. E, ao entardecer, ele afunda seu navio na terra, sendo levado através de portais para terras implacáveis, manchadas de existências sem alma.

Nos céus noturnos abrasadores, um cenário de luta eterna se desenha. As lágrimas congelam, enquanto o sangue frio se infiltra na terra. As visões ecoam na mente do narrador, uma tristeza profunda envolvendo o incêndio. As palavras mágicas, como fumaça, se erguem - "Häxanmist, pilares de fumaça. O aroma de carne incendiada, o ar tingido de gritos. O fumo envolve os pulmões, enquanto os restos se transformam em um mar de cinzas.

Com o brilho das chamas escarlates, os obscenos rituais, e o aroma de carne carbonizada, todas as palavras mágicas ganham vida. "Adsum, noctifer. Adsum, sidereus. Adsum, invisibilis. Adsum, ignigena". Ele os convoca, ele os chama, de cada canto, de cada sepultura. Ergam-se! De suas cinzas, ergam-se! Ergam-se, iluminados pelas chamas negras mais puras, lambendo o ar com tirania ardente. Sangue como vinho flui em nossas bocas. Recebemos, recebemos à medida que vocês ressurgem! 

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 Na terceira faixa, intitulada "III. Iron Emissaries of Elite Darkness", adentramos mais profundamente a trama obscura dessa narrativa musical. As palavras ressoam como sombras ameaçadoras, evocando imagens de raiva e destruição.

Sobre corcéis alados da ira, a foice canta serenatas de morte. Um ápice de réquiens ecoa nos sinos, à beira do precipício da morte. Colinas repletas de sepulturas se estendem até onde a vista alcança. Perdidas foram as chaves dos antigos caminhos.

A traição, sussurrada por línguas inchadas, deve ser cortada com lâminas enferrujadas. Ondas malignas na atmosfera abrem caminho para maelstroms de chamas sanguinárias. Logo, seu caminho será engolido por nossa voracidade. Logo, suas trilhas serão arrasadas por nosso desprezo. Seus nomes serão apagados por seu próprio sangue. Seus cânticos serão silenciados por nossas tempestades. Em poças estagnadas de suas lágrimas, você se afogará. Seu domínio será dizimado por nossa guerra.

O sangue da terra clama e chama! Os ventos atormentam nossos ossos enquanto o frio envolve nossa carne. Protegidos pelo orvalho lunar, o gelo cresce dentro de nossas veias, tão puro quanto nossas feridas. Puro como a Lua de Prata, puro como as estrelas que maculamos, puro como o céu noturno.

Esse segredo é apenas sussurrado em tons abafados, como um silêncio que caiu sobre as línguas dos traidores. Nossas sombras crescem com o passar das eras, embora nossos espíritos não fossem destinados a esta era. Somos uma ira iluminadora, que carbonizou esta Terra com Chamas Negras. Nossa vela tornou-se rasa, uma agonia vacilante. Essas terras percorremos como fantasmas terrenos, ligados a éons de miséria. Nos ventos de um holocausto gélido, voamos com asas negras em direção a um Sol que buscamos apagar, mais uma vez, para preservar a escuridão. Em nossa ira secular, carregamos tempo e espaço.

No auge dessa faixa, "Que cada palavra seja o golpe de uma víbora, através de nossos versos venenosos. A píton morde na garganta da misericórdia, sem arrependimento para essa efusão de sangue. Sua hora chegou. Você ora, mas é a presa. Sem perdão, isso é guerra. Nossa vitória reside em nossas notas e em nossas vozes. Inalamos a poeira das estrelas cadentes, exalamos o sopro de mil mortes. Pois somos a foice, somos o engano, somos o ódio eterno interior."

Nossa gloriosa linhagem de inverno, licantropicamente envolta nas noites de lua cheia. Crânios e ossos são a madeira de nossos altares. Incêndios incontroláveis no norte iluminam nossos tronos. Velas brilham em suave alinhamento, com fantasmas dentro da fumaça. Enquanto sopramos para a vigília, o sangue de mil sóis cai ao chão, alimentando a terra em um dilúvio carmesim.

E assim, o silêncio é quebrado por uma mudança sísmica na crosta. Uma fenda se abre na Terra e libera mil pragas. Unidos em forças, aproveitemos a noite, pois somos capazes do infinito.



Assim, os Fantasmas Tiranicos de Ancestral Shadows, proclamam sua existência, sussurrando os segredos da noite, envolvendo a psique nas trevas profundas e convidando todos que ousam a explorar os abismos da música que transcende tempo e razão. Neste cenário, a jornada musical assume uma qualidade que transcende o mero entretenimento, mergulhando os ouvintes na mágica misteriosa de um mundo obscurecido pela penumbra, onde a música é a chave para desvendar os segredos da alma.
 
Uma peça notavelmente extraordinária de Black Metal. Cativante, repleta de identidade e imersa na melancolia atmosférica.
 
 
Banda(s) / Band(s): Ancestral Shadows
Álbum / Album: Eldritch Illuminations
Ano / Year: 2021
Tipo / Type: EP
Rótulo / Label: Dark Adversary Productions
Gênero(s) / Genre(s): Black Metal
Tema(s) lírico / Lyrical theme(s): Nature, Heathenism, Desolation, Lore, Melancholy, Mysticism
País / Country: United States


In Memoriam - Lindsey C. Scalia, March 4, 1986 - September 11, 2020.


Tracklist:
1. I. Introduction - Tragedies Befell 02:37
2. II. Eldritch Illuminations (Of Immolated Witches) 11:51
3. III. Iron Emissaries of Elite Darkness 14:57
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Total playing time: 29:25


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